Eu nunca falei sobre isso...
- Jessica Zago
- 23 de mai. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de mai. de 2024

Tanto na Terapia, quanto na vida, seguimos numa tentativa de nomear ou lidar com as experiências que passamos.
Nesse sentido, escuto muitas vezes na Clínica essa frase "Eu nunca falei sobre isso...".
Geralmente, "isso" pode envolver experiências diversas...
Ainda assim, muitas vezes, são experiências que de algum modo, foram vinculadas à construção de ideias (construídas por compreensões sociais, familiares, religiosas, entre outros âmbitos) em que alguns acontecimentos poderiam gerar julgamentos, vergonha, recriminações, ou até mesmo, foram reprimidos quando compartilhados, como por exemplo "não conte isso para ninguém", "o que você fez para isso acontecer?". Assim, algumas frases quando escutadas podem ser entendidas como regras (ditas até nesse sentido mesmo) de quê sobre certas "coisas", não se fala.
Mas, essas "coisas" têm nome, afetam e muitas vezes, podem estar associadas à medos, traumas, diferentes situações de violência, vivências relacionadas à sexualidade, descobertas, curiosidades, vontades, até mesmo sendo "comuns", mas, que há depender de como são vistas, ficam num lugar de silenciamento, de culpa, pode provocar inibições e outros tipos de sofrimento.
"Nunca falei pois, não iam acreditar em mim"
"Eu não sabia o que era aquilo, fiquei com medo de compartilhar"
"Depois de muitos anos, vi uma notícia falando sobre determinado assunto e me veio uma lembrança de algo parecido que aconteceu comigo".
"hoje vejo que é um assunto tão comum, mas na época, era como se fosse um crime falar sobre isso"
"Eu tinha medo do que poderiam pensar"
Já se sentiu assim? Vivenciou algo que ainda não entendeu mas foi tão marcante na tua história?
Pensando um pouco sobre isso, conforme disse Freud em um texto sobre fazer Análise pessoal (Terapia) - "A Análise finita e a infinita" de 1937, conseguimos escapar, burlar nossos pensamentos e sentimentos de vez em quando, mas, não é possível fugirmos de nós mesmos, de algo que nos habita, de memórias que nos acompanham.
Por essa perspectiva, nos analisarmos é caminharmos em nossa própria história, por meio dos nossos cômodos e incômodos, podemos saber o que nos levou a procurar a terapia, mas é importante estar aberto(a) à percorrer campos desconhecidos em nós mesmos.
Bom... `às vezes, nem tão desconhecidos assim.
Para mim, a Psicanálise anda de mãos dadas com uma posição humilde e humanizada de olhar para o outro, de modo que esses julgamentos possam ser desmantelados, dando lugar para que cada pessoa se aproprie das inúmeras partes de si, de suas fantasias, de suas vontades e de seus sofrimentos, dando outros lugares para existirem.
A experiência analítica têm essa potência!
Em que o sofrimento também pode se encontrar com o cuidado.
Deixo aqui um convite diante da possibilidade de poder pensar e se relacionar com essas marcações, dores, amores, medos, inseguranças, faltas, angústias...